Sotaque
Verde e amarelo
Com o Sisu, a UFPel deixa Pelotas brasileira com estudantes vindos de outros estados
Carlos Queiroz -
A costumada à ode aos próprios valores, ao sotaque gaúcho e ao culto às tradições europeias, Pelotas aprende a olhar com mais esmero para a própria pátria a partir de 2010. De certa forma estagnada culturalmente, a cidade recebe o novo fôlego dos estudantes da UFPel aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Oriundos de outros estados e cidades, eles tornam a cidade, enfim, mais brasileira.
Em um apartamento no Centro moram cinco, com origens diferentes - do Espírito Santo a Torres -, de cursos distintos, mas com um ponto em comum: a vontade de fazer faculdade unida à ânsia de sair da zona de conforto, desejo comum nas veias de quem se aproxima dos 20 anos. “Queria sair de perto, então prestei o Enem e vi onde eu poderia entrar”, conta Rodrigo Matos, acadêmico de Artes Visuais e natural de Torres.
Estudante de Letras Português/Francês, Rafael Hett também não titubeou na hora de se mudar para longe. “Vim logo depois do Ensino Médio. Estava saturado da cidade grande, de demorar uma hora e meia para chegar nos lugares, então nem fiz os vestibulares tradicionais de lá.” Natural de Osasco, na grande São Paulo, ele diz gostar de Pelotas ao mesmo tempo em que sente falta das praticidades dos grandes centros, como encontrar o que comer a qualquer hora do dia.
Em relação ao contato com os pelotenses, o grupo não tem críticas: sempre foram bem recebidos. “Estranhei no início apenas o visse, o disse, o merece. Mereço o quê?”, brinca Livia Arouche. Resultado de andanças entre Santa Catarina e Espírito Santo, a hoje estudante de Cinema e Audiovisual diz ter vindo para Pelotas em momento sem qualquer ideia de o que desejava para a vida.
De fato o contato maior é com os próprios estudantes e se forma aí uma família, quase que por necessidade. “Cada um tem o seu jeito e às vezes é difícil, mas também interessante. Você acaba passando por perrengues emocionais e financeiros junto com aquelas pessoas. Um se apoia no outro”, comenta Matos. “Tem muito de amadurecimento. Mudei muito no tempo aqui, aprendi a me virar sozinho”, completa Hett.
Como tudo na vida são ciclos, chega o momento de romper as raízes aqui formadas e rumar para aquela que agora é “a casa dos pais” - a “minha casa” se tornou a de Pelotas. Eren Castellano, recém-formada em Artes Visuais, é mais uma a completar a fase, não sem dor. “Eu gosto muito de voltar para cá, sentir o cheiro de café que os meninos sempre fazem de manhã e ficar no meu quarto, sem ninguém me incomodar. Cheguei aqui com a roupa do corpo e fui juntando as coisas. Dói muito ter que vender os móveis, mas tenho que pensar que novos estudantes vão passar pela mesma situação e também precisarão deles”, derrama-se e derrama também os companheiros.
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